Vamos pensar em um dia ruim para você. Talvez tenha acontecido com você uma série de coisas erradas durante todo o dia: você teve uma noite de sono ruim, o seu cônjuge disse algo irritante e insensível durante o café da manhã, o carro não deu partida, você estava atrasado para o trabalho, e, em seguida, ele finalmente parou de funcionar completamente e você ainda perdeu o relatório que gastou 2 horas criando…

O que você faz para se sentir melhor?

Você vai dar um passeio?

Talvez tome um café?

Ou telefone para o seu amigo para reclamar?

Ou coma um chocolate?

Quão importante é para você fazer alguma coisa para aliviar como está se sentindo?

E se você não conseguir voltar a um estado melhor, o que é provável que aconteça? Talvez você exploda por qualquer coisa insignificante, e depois se arrependerá.

Agora pense em um dia ruim para seu filho. Talvez sua rotina matinal tenha sido confundida, o ônibus escolar quebrou e foi substituído por um diferente, o motorista teve que tomar um caminho diferente por causa de obras na rodovia, seu monitor de apoio das aulas ficou doente e a escola ainda não tinha encontrado um substituto.

E o dia ficou pior depois disso, estava chovendo no recreio e todas as crianças tiveram que ficar na sala, o barulho na sala de aula era insuportável, etc.

Você entendeu o quadro.

De alguma forma, heroicamente, ele passou por tudo isso durante o seu dia, e chega em casa muito estressado.

Como ele faz para se sentir melhor?

Prefere passar algum tempo sozinho, fazendo algumas estereotipias, vendo o mesmo trecho de um vídeo no Youtube várias vezes ou se concentra em alguma outra atividade que não pareça muito produtiva?

Você o deixa?

Continue lendo esse artigo para saber como ajudar a criança autista a identificar, rotular e controlar suas emoções. Você irá aprender sobre:

Ensinar a Criança Autista Controlar as Emoções

Controlar as Emoções

Alan Yau, professor de crianças autistas há mais de vinte anos afirma que, o mundo emocional no espectro pode ser muito assustador! As emoções são muitas vezes tudo ou nada, indo de 0 a 100 bem rápido.

Uma vez que as crianças muitas vezes não conseguem identificar e se associar a essas emoções, elas frequentemente relatam que se sentem isoladas por conta disso. As emoções vêm sem aviso e são difíceis de rotular e conectar a uma causa, o que deixa a criança incapaz de controlá-las.

Na maioria das vezes, queremos intervir tão logo nossos filhos comecem a ficar chateados.

Tentamos interrompê-los e protegê-los contra o estresse para que não fiquem ansiosos e / ou nervosos. Isso é compreensível. Nenhum pai gosta de ver seu filho sofrer durante os momentos de emoção.

Para as crianças do espectro, por conta da dificuldade em identificar, rotular e controlar suas emoções, sentir emoção pode ser assustador e causar pânico. Qualquer sentimento intenso pode trazer pânico, e acionar sua resposta para luta ou fuga.

Uma vez que se sintam vulneráveis e desamparados com seus sentimentos, basta uma pequena quantidade de ansiedade para poder desencadear o pânico. Eles não sabem a diferença entre sentir-se pouco ansioso ou ansiedade intensa.

Tão logo eles começam a sentir emoção, entram em pânico, o que só faz aumentar a intensidade da mesma.

Consequentemente, os pais querem proteger a criança deste pânico, e muitas vezes tentam disfarçar, redirecionar e ignorar a emoção.

No entanto, as crianças precisam experimentar a sensação de estar chateada – que é normal e não vai durar muito tempo – e descobrir que são capazes de controlar a emoção.

Por isso que é importante ajudar as crianças a se sentirem seguras e aceitas nos momentos mais fortes da emoção. Eles precisam sentir que aqueles que estão por perto compreendem a sua aflição.

Precisamos comunicar entendimento e aceitação no momento em que a criança está inundada pela emoção. Ofereça assistência, mas não pressione a aceitá-la. Resumindo, ensinar a criança autista controlar suas emoções.

Algumas crianças deixarão acalmá-las. No entanto, muitas vezes as crianças querem ficar sozinhas, porque às vezes qualquer apoio externo  é demasiado esmagador para elas.

Durante esses momentos, precisamos dar um tempo a criança, diminuir toda a estimulação, e remover todas as demandas.

Não alimente o fogo!

Tire o oxigênio, e o fogo irá diminuir.

O que a criança precisa perceber é que a emoção vai embora! Não vai durar muito. Está segura com você, e vocês ficarão juntos até ela se acalmar. Se a criança tiver medo das reações dos outros, então ela entrará em pânico sempre que sentir a emoção.

Identificando e Rotulando as Emoções

Rotulando emoções

De acordo com o psicólogo e especialista em autismo Bill Nason, muitas crianças do espectro têm dificuldade em identificar e rotular suas emoções.

Consequentemente, as crianças têm dificuldade em entendê-las, muitas vezes as temem e se sentem impotentes em controlá-las.

Quando você não pode rotular suas emoções, você tem dificuldade em avaliar a natureza e a intensidade delas. Muitas crianças do espectro exageram a ameaça de suas emoções, e, portanto, entram em pânico e reagem exageradamente. Portanto, aprender a controlar as emoções deve começar com uma rotulagem adequada.

Antes que as crianças possam aprender a controlar suas emoções, elas precisam primeiro aprender a:

  • Identificar e rotular suas emoções;
  • Conectá-las a eventos externos que as produzem;
  • Ser capaz de julgar a intensidade das emoções.

Comece ajudando seu filho a identificar e rotular as quatro emoções básicas: feliz, triste, zangada (raiva) e assustada (medo). Adicione também “calma”, uma vez que é um estado emocional que é usado com frequência para ensinar a regulação emocional.

Ao ensinar emoções, tente usar as experiências diárias comuns para destacá-las. Identificar e rotular todas as emoções que você observar em seu filho, você mesmo e outros.

Destaque e rotule as emoções onde e quando tiver uma chance:

1.    Verbalmente rotule em voz alta suas próprias emoções: “Sinto-me triste que o meu amigo João foi embora. Vou sentir falta dele. “
2.    Demonstre e rotule as emoções que você vê nos outros: “Eu acho que aquele homem sente raiva porque ele deixou cair sua comida! “
3.    Rotular as emoções que você vê em seu filho: “Pedro, você fica muito feliz quando toma o seu suco favorito. “

Tente ficar com as quatro ou cinco emoções básicas até que sejam aprendidas. Em vez de dizer “frustrado”, diga “zangado”: em vez de dizer “deprimido”, diga “triste”.

Mantenha apenas as emoções básicas. Caso contrário, nós confundimos a criança.

Uma vez que a criança fique boa em identificar essas emoções, você pode lentamente adicionar outras. As crianças muitas vezes aprendem bem usando dicas visuais com “caras de emoção” (emoticons) para ajudar a identificar as emoções básicas.

Emoções básicas

Você pode comprar esses gráficos comercialmente ou baixar as imagens online e imprimir (eu baixei aqui). Uma vez que a criança possa compreender as emoções básicas, começam a identificá-las e rotulá-las por conta própria.

Pode ser divertido usar emoticons para falar sobre como você está se sentindo. A maioria das crianças pequenas começam com o gráfico básico de quatro emoções. Pais e professores usam o gráfico para ajudar as crianças a avaliar como elas estão se sentindo.

Dicas de como ensinar as crianças:

  1. Use o cartão de emoção básica de manhã, à tarde e à noite e peça ao seu filho para identificar e rotular como ele está se sentindo. Também falar sobre como ele sente essa emoção e conecte ao evento que está causando o sentimento, para que ele saiba por que está se sentindo assim.
  2. Uma vez que você sente que a criança está começando a rotular emoções, pare e deixe-a identificar o sentimento. Quando você e seu filho verem outras pessoas mostrando emoção, em vez de identificar as emoções para ele, tente ver se ele pode descobrir isso sozinho:  “Se ele não responder, diga: “Eu me pergunto se ele está feliz, triste, zangado, ou com medo?” Se ele ainda for muito jovem, dar apenas duas escolhas. Uma vez que a emoção é identificada, fale sobre quais eventos e comportamentos levou você a essa conclusão.
  3. Ao assistir televisão ou vídeos, faça uma pausa no vídeo e fale sobre as emoções que você acha que os atores estão sentindo, e conecte a emoção com suas ações. Novamente, permita que a criança identifique se a pessoa está feliz, triste, zangada ou com medo.
  4. Olhem juntos fotos em revistas e fale sobre as emoções que as pessoas estão expressando.


Inventário de Sentimentos

Uma vez que a criança possa rotular com precisão as emoções básicas, comece a fazer um inventário de “sentimentos”, listando o que os eventos comuns costumam provocar as emoções dadas.

Isso ajuda a criança a aprender como conectar suas emoções com eventos externos e construir memórias associativas para categorizar emoções com eventos.

Inventário de sentimentos

Ajuda muito se você acostumar-se a pensar em voz alta. Você rotula a emoção e imediatamente a conecta ao evento que está provocando a emoção. “Mamãe está com raiva porque os ovos caíram no chão.

As mesmas situações básicas se aplicam:

  1. rotular e conectar suas reações emocionais,
  2. rotular e conectar as emoções que você vê nos outros, e
  3. rotular e conectar as emoções que você vê em seu filho. “Você parece triste. Pode ficar triste quando você perder algo que você realmente gosta.”

Ensinar os Graus das Emoções

Graus das emoções

Agora vamos aumentar um pouco o nível, segundo a especialista em educação de autistas – Kari Dunn Boron,  à medida que a criança se torna mais competente em rotular as emoções básicas, devemos começar a trabalhar na avaliação da intensidade das emoções. As crianças no espectro são muitas vezes absolutas – muito preto e branco, tudo ou nada.

Elas se sentem felizes ou infelizes, sem graus intermediários. Elas estão felizes ou zangadas, e geralmente em alta intensidade.

O conceito de relatividade é muito difícil para elas entenderem. Seu pensamento absoluto, preto e branco afeta sua reação emocional. Elas vivem em um mundo de extremos.

Ensinar-lhes a avaliar a intensidade de sua emoção as ajuda a:

  1. Avaliar com mais precisão a intensidade da emoção;
  2. Avaliar mais adequadamente a ameaça da emoção;
  3. Eventualmente escolher qual habilidade de enfrentamento para dominar a emoção.

Uma vez que elas aprendem essas três funções, seu nível de ansiedade diminui e sua reação de pânico também.

O ensino de intensidade começa com apenas dois graus: “pouco” e “muito” – Eu sou um “pouco” feliz ou “muito” feliz!

Isso começa onde elas estão com os dois extremos. Então, uma vez que elas se acostumem a fazer isso, acrescentamos um passo médio: “pouco, um pouco (ou quase), ou muito.” À medida que a criança cresce, adicionamos mais graus, com uma escala de até cinco pontos para avaliar suas emoções. A criança se acostuma a rotular suas emoções pelo número que ela as classifica.

Como Agir em uma Crise

Como agir na crise

Em momentos de estresse, intervenha antes que a criança se torne chateada demais para seguir sua liderança.

Fique calmo, ajoelhe-se até seu nível, e ganhe sua atenção. Pare a ação, reconheça e valide como ela se mostra (irritada, frustrada, etc.), em seguida, conduza-a para uma rotina calmante (respiração profunda, contar até 10, pressão profunda, etc.).

É melhor praticar a rotina calmante quando ela estiver calma para que a criança se sinta confortável a sua condução durante os momentos de estresse. Apoie, valide seus sentimentos, e tranquilize-a dizendo que ela está segura.

Faça a rotina calmante com ela, modelando e estimulando suas ações. Se necessário, leve brevemente a criança para longe da fonte de estresse ou para uma área mais silenciosa lhe possibilitando usar as habilidades de enfrentamento para acalmá-la.

Façam juntos e elogie a cooperação dela. Continue a validar, tranquilize e tente usar a habilidade de enfrentamento até que a criança se acalme. Uma vez que ela esteja calma, converse sobre o que a chateou, construa um apoio extra, e retorne então momentaneamente ao evento para tentar dominar o problema.

Retornar ao evento, se possível, é importante por duas razões:

  1. Para que a criança não pense que pode escapar de todas as situações estressantes indo embora;
  2. Permitir que a criança veja que ela pode ficar ansiosa, aprender a dominar a incerteza, e dominar o medo.

No entanto, nunca force retornar ao evento se a criança estiver muito resistente. Devagar, fale com ela, fique com ela, e enfrente a situação juntos.

Se a criança se recusar a seguir a sua liderança, simplesmente fique por perto e tranquilize-a dizendo que ela está segura, deixe-a encontrar seu caminho através da emoção.

Então,

sua criança autista consegue rotular e entender as emoções que ela sente? Conte nos comentários abaixo.

Referências

Dunn Buron, K. and Curti, M. (2012) The Incredible 5 Point Scale: The Significantly Improved and Expanded Second Edition; Assisting Students in Understanding Social Interactions and Controlling their Emotional Responses. Shawnee Mission, KS: AACP Publishing.

Nason, B. (2014) The Autism Discussion Page on the core challenges of autism: A toolbox for helping children with autism feel safe, accepted, and competent. London: Jessica Kingsley Publishers.

Yau, Alan (2012) Autism – A Pratical Guides for Parents: Autism Sparks.

Imagens: Depositphotos, Pixar Animation Studios.

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Marcelo Rodrigues
Marcelo Rodrigues

Pai de Pedro (Peu), teve sua vida transformada pelo autismo e descobriu que só através do conhecimento, respeito, aceitação e amor incondicional é possível ajudar no desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida das crianças autistas.